quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

CURSO DE INICIAÇÃO À ICONOGRAFIA 2012

PAX!
Estamos programando nosso próximo curso de iniciação à iconografia russo-bizantina para o primeiro semestre de 2012 - 30/04 à 06/05.
Neste curso, sob orientação dos iconógrafos Rosalva Trevisan Rigo e Dom Paulo Domiciano, OSB, a Escola de Iconografia São Lucas do Mosteiro da Transfiguração oferecerá uma introdução à teologia e espiritualidade do ícone, seu significado e lugar no mistério litúrgico. Os candidatos também serão iniciados à técnica da escrita de um ícone da face de Cristo, segundo a escola russo-bizantina de S. André Rublev (séc XV).
O material necessário para a realização deste primeiro ícone será fornecido pela escola e os candidatos poderão levá-lo consigo ao final do trabalho.

Para informações e inscrições: (55) 3512-6193
domicianus@hotmail.com
rosalvaartesacra@gmail.com

sábado, 15 de outubro de 2011

FILME OSTROV



Recentemente assisti um dos mais belos filmes de minha vida. Trata-se de OSTR0V (2006) – A Ilha.
É um filme russo que conta a história de um marinheiro que sobrevive a um naufrágio e que é acolhido em um mosteiro ortodoxo. Ele mesmo se faz monge e vive num constante arrependimento pelos pecados cometidos durante a guerra e numa profunda oração. Seu sofrimento espiritual e humano lhe permite compreender o sofrimento dos peregrinos que se aproximam para receber orações, aconselhamento e cura de suas doenças.
O Patriarca Alexis II disse que este filme é um exemplo vivo de uma tentativa de abordagem cristã da cultura.
Infelizmente o filme não chegou ao Brasil. Mas é possível ver alguma coisa pela internet.
No site do filme: www.ostrov-film.ru, há uma frase que aguça nossa curiosidade:
“Dele esperam milagre e salvação; mas ele próprio, apenas um milagre poderá salvar.”





sábado, 6 de agosto de 2011

UM IMPREVISTO ÍCONE DE TODA A REALIDADE

O segredo revelado aos três apóstolos Pedro, Tiago e João no monte Tabor é o segredo que hoje o iconógrafo deve comunicar com a arte sacra. Na luz da fé em Jesus Cristo, a realidade sofre uma metamorfose: o fiel percebe aquela vocação que desde já começa a penetrar na criação. 

Em geral se conhece a arte sacra do ícone apenas pela leitura de de qualquer livro. Entre as frases sobre o assunto existe aquela que afirma que o primeiro ícone que o iconógrafo realiza é aquele da Transfiguração. Se poderia dizer, por analogia com o aprendiz de música que, para receber o diploma – após os anos de conservatório – apresenta para o exame um trecho musical correspondente, quanto à dificuldade, à execução de um ícone da Transfiguração. 
E no entanto, a Transfiguração é, verdadeiramente, o ícone por excelência: o selo que confirma esta linguagem sagrada. 
O segredo contido neste episódio evangélico aparentemente anômalo é, na realidade, a regra da arte sacra, o seu cânone de referência: inicialmente secreto, depois revelado a todos. 


O monte elevado

O modo de pintar um ícone é análogo à construção de uma cidadela sobre um monte. De fato, é em cima do monte que o céu se inclina sobre a terra que se eleva. A arte sagrada é esta dinâmica de abaixamento e elevação. Não só Moisés e Elias (Horeb–Sinai) são personagens da montanha sagrada, mas cada um de nós e todo ícone deve se tornar monte como é dito no Salmo 86, 2-3: “O Senhor fundou a sua cidade sobre os montes que santificou com a sua presença” e “Minha mãe é Sião, todos nasceram nela”. A pintura sagrada representa os seus santos e os seus personagens como que alongados em direção ao alto, ou eles mesmos, como sólidas montanhas. Pode-se dizer que ser terra que se eleva torna-se um cânone pictórico.


Vós que éreis treva... agora sois luz (Ef 2,13)
O esforço do pintor corresponde à dinâmica da iniciação cristã – expressa na Carta aos Efésios – de trazer, da matéria opaca, a luz. Em Fl 3,21 São Paulo diz: “Ele transformará o nosso pobre corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso”. De fato, na pintura do ícone, partindo da humilde poeira colorida dos pigmentos, se vai em direção à luz com sucessivos clareamentos, uma espécie de iniciação cristã na arte sacra. 









Uma nuvem os cobriu e eles ficaram cheios de temor
O ícone da Transfiguração representa três personagens lançados em direção ao alto e três personagens que se prostram descompostos ao solo com um contraste surpreendente, sobretudo nos ícones russos, onde este fato é acentuado de modo aparentemente exagerado. O Homem-Deus que toca o céu e o homem-terrestre agachado ao solo constituem os dois extremos de uma dinâmica de percurso de ascese. O ícone parte do homem terrestre para conformá-lo a Cristo, Homem-Deus: do descomposto ponto mais baixo à elevada e solene chama lançada em direção ao céu. 

Vestes brancas como a luz 
Em comparação com o espírito, o corpo é como uma roupa que se usa. Deus é luz incriada e o corpo assumido pelo Verbo, segundo Adão, provém da criação (da santíssima Virgem) para ser enxertado nessa Luz divina: no corpo de Cristo e nas suas vestes brancas como a luz é ocultado o grande mistério da Imaculada, uma terra virgem que deu um corpo ao Verbo de Deus, e há também o mistério da divinização do homem: a sua participação na luz incriada. 

“É bom ficarmos aqui”
 A beatitude do Paraíso é o caráter que a virtude da esperança nos faz antegozar. A arte do ícone é toda baseada nesse aspecto positivo. É uma arte que tem um olhar positivo e consolador sobre a realidade como um viático sacramental na batalha da vida. Cada ícone conserva esse aspecto alegre do Tabor nas suas cores luminosas, no ouro, na nitidez das formas, na transparência das camadas de cor e, sobretudo, ao evidenciar os fatos como se estivessem ocorrido recentemente, como uma aparição, como uma teofania. 

A nuvem luminosa 
O iconógrafo conhece bem este símbolo, o qual representa habitualmente como uma sucessão de círculos concêntricos, alguns luminosos, outros com um azul profundo, enriquecidos de raios e estrelas de ouro. A boa pintura consegue conferir também ao tom escuro uma transparência como um céu nas noites do oriente ou como a água profunda. É aquele símbolo que circunda o Cristo que desce aos infernos, que vem pegar a alma de Maria, na Dormição, ou mesmo quando está sentado no seu trono de glória. A nuvem é sinal revelador de uma presença, aquela do Espírito Santo, na sua dúplice função de cobrir e iluminar, refrescar e aquecer, acolher e irradiar dons. A sua cor é um azul escuro ou o branco, o ouro ou o vermelho incandescente: as cores da plenitude que revelam a beatitude de um lugar de chegada, da expectativa de uma festa nupcial ou talvez a palavra nuvem simplesmente esconde este segredo. 

Giovanni Mezzalira 
Tradução: Ir. Cristiane Pieterzack ASF

quinta-feira, 30 de junho de 2011

CURSO DE INICIAÇÃO À ICONOGRAFIA JUNHO 2011

No dia 20 de junho iniciamos três novos alunos na Escola São Lucas: Filipe Mirapalheta Oliveira, seminarista da Diocese de Novo Hamburgo-RS, Fátima Epifânio,  do Rio de Janeiro-RJ, e Eliete de Oliveira Valentini, de Taquara-RS. Nossas alunas Irª Cristiane Pieterzack, ASF, Berenice Dallagnol e Iracema O. da Natividade, que já frequentaram o curso de iniciação em 2010, também trabalharam conosco estes dias.
Os primeiros três dias foram de aulas de teologia e espiritualidade do ícone na tradição cristã. Depois os alunos iniciantes foram para o ateliê onde receberam as primeiras instruções sobre a confecção dos santos ícones segundo as técnicas da escola russo-bizantina dos séculos de Ouro (XV-XVI).
Preparamos com eles as madeiras com a cola de coelho e o levkas; o polimento de preparação para receber o modelo; a preparação dos pigmentos com têmpera de gema de ovo e vinho e cada uma das etapas segundo a tradição do Santo André Rublev.
No final da tarde do dia 28, durante a Liturgia de Vésperas, os ícones foram abençoados sobre o altar da igreja do mosteiro.









“Cristo é o ícone do Deus invisível, o Primogênito de toda criação” Col 1, 15

terça-feira, 29 de março de 2011

Deus é feio ou é belo?

A arte é, se quisermos, a narração visual da experiência de encontro com um rosto, uma palavra, uma imagem verdadeiramente visível porque incarnada. São Paulo irá mais longe, completando cristológica e cristãmente a doutrina da “imagem-ícone” de Deus desenvolvida em Gênesis 1,27 («Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher»). De fato, ele afirma que os cristãos, como filhos adotivos de Deus, são predestinados a serem “uma imagem (eikôn) idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogênito de muitos irmãos” (Romanos 8, 29). O cristão é, por isso, imagem da imagem de Deus e a arte é o ícone da imagem da imagem, pois através dos vários rostos humanos ela recompõe o rosto de Cristo que é revelação do rosto divino. Como afirmava Macário, o Grande, na sua Iª Homilia, «A alma que foi plenamente iluminada pela beleza inexprimível da luminosa glória do rosto de Cristo, fica cheia do Espírito Santo (...) e torna-se toda ela olhos, toda luz, toda rosto» (Patrologia Graeca XXXIV, 451).
Façamos aceno a uma pergunta talvez ingénua mas, sem dúvida, fascinante: é possível dizer algo mais sobre o rosto de Deus, através da Encarnação [de Jesus], para que a arte adquira uma espécie de cânone figurativo? Há um silêncio nos Evangelhos que não dedicaram nem uma linha ao perfil físico de Jesus de Nazaré, nem sequer o Evangelho de Lucas, dito o “pintor” (de acordo com a tradição). Ora, a cultura cristã enveredou não por uma, mas por duas vias e antitéticas. Ambas têm, todavia, uma sua verdade.
Primeiramente, a partir do século III, os Padres da Igreja quebraram o silêncio visual e imaginaram o rosto de Cristo moldado pelo seu sofrimento redentor, o rosto da paixão e morte que o célebre passo de Isaías, do canto quarto do Servo Sofredor, ilumina: “Sem figura nem beleza. Vimo-lo sem aspecto atraente... diante do qual se tapa o rosto” (53,2-3). Orígenes resumiu isso de forma lapidar: Jesus era pequeno, feiote, semelhante a um zé-ninguém. Pode ser surpreendente, mas aqui chegados, devemos dizer que até a fealdade pode salvar o mundo, invertendo assim a célebre e citadíssima afirmação de Dostoievski. A lógica da Encarnação compreende também o sofrimento de Deus, o corpo martirizado, a posteriora Dei, como Lutero ousava definir o perfil de Cristo crucificado. O seu rosto reflete a face banhada de lágrimas dos irmãos e irmãs do “primogénito entre muitos irmãos”. Neste sentido, é uma “fealdade” nobre que fala de Deus e que impede todo o kitsch devocional, todo a esteticismo triunfalista, todo o maneirismo.
Contudo, é preciso reconhecer que o ponto de chegada da vida de Cristo não é a Sexta-feira Santa, mas “o Domingo da vida”, para usar livremente uma locução hegeliana, ou seja, o alvor da Páscoa que é por excelência o definitivo “dia do Senhor” (Apocalipse 1,10). Não é por acaso que a Primeira Carta de João define Deus como Luz (1,5). A partir daqui inaugurou-se uma outra estrada figurativa que os Padres da Igreja exaltaram a partir do século IV, e fizeram prevalecer na tradição artística posterior. Usando os modelos da estética clássica greco-romana, absorvendo até frequentemente a tipologia figurativa das divindades pagãs ou dos filósofos da antiguidade, propôs-se um Deus belo e radioso, um Cristo apolíneo, irradiando luz como o sol, segundo o passo do Salmo 45,3, submetido a uma releitura alegórico-messiânica: “Tu és o mais belo dos filhos dos homens”. Apesar de Santo Agostinho repetir que “ignoramos totalmente qual seja o rosto” real de Cristo, foi esta a imagem divina que se impôs, reforçada em milhares de representações admiráveis em séculos da melhor arte cristã, mas também na superabundância monótona e repetitiva dos copistas.
Na verdade, os dois itinerários iconográficos oferecem um contributo para representar o Deus bíblico que é, sim, transcendência e luz, mas também é Emanuel, pronto a caminhar pelos percursos da história e a tocar os corações com o seu Filho feito homem. À luz desta perspectiva torna-se emblemática a síntese operada pelos vários Pantokrator colocados nas absides das grandes basílicas antigas: o Cristo triunfante e glorioso aparece em todo o esplendor da sua beleza, mas traz bem visíveis os estigmas ensanguentados da sua paixão. Deus invisível e visível, transcendente e próximo, glorioso e sofredor. Eis a arte, a quem cumpre não só apresentar o fenomenológico, mas o mistério subentendido (o Inconnu, como dizia o poeta francês Laforgue). Quando a arte se faz religiosa, deve procurar sempre unir de maneira harmoniosa o Infinito e a carne, o Eterno e a história, o Filho de Deus que é Jesus de Nazaré.
D. Gianfranco Ravasi
Presidente do Conselho Pontifício da Cultura
Trad.: SNPC
© SNPC (trad.) | 02.07.10

terça-feira, 15 de março de 2011

Trabalho em um ateliê de iconografia

Encontrei essa semana um blog italiano excelente, com muitos links de ateliês de iconografia e iconógrafos de vários países, inclusive da Rússia. Dentre eles, um que me chamou muito a atenção é o álbum de fotos de Anastasija Sopagiene, uma iconógrafa católica romana da Lituânia, que trabalha juntamente com mias dois iconógrafos. Eles realizaram uma Via Sacra e mostram passo à passo todo o processo de confecção dos ícones.





Vale à pena conferir: 
Álbum de Anastasija Sopagiene
O endereço do blog: http://iconecristiane.it/
Espero que gostem!!!

quinta-feira, 3 de março de 2011

L´Officina dei Santi - Livro do Mestre Mezzalira

L’Officina dei Santi (A Oficina dos Santos)
O ciclo iconográfico criado na Abadia de Maguzzano,

reflexões sobre a arte sacramental
capa: a comunhão dos apóstolos

G. Mezzalira - E. Bertaboni - G. Matta - A.Ambrosi



O desejo de finalmente ver realizado um programa iconográfico à serviço do espaço litúrgico, levou alguns pintores da Escola de Iconografia da Abadia de Maguzzano – Itália, a projetar e realizar, por iniciativa própria, uma pintura mural para servir de modelo, acompanhada de reflexões aprofundadas e contextualizadas à realidade litúrgica de nossos dias, infelizmente abstrata e sem forma.

A redescoberta de uma autêntica arte sacra, graças às reflexões sobre a teologia do ícone e das investigações sobre as antigas técnicas por parte dos restauradores russos, há décadas, deu vida à atividade iconográfica.

Esta arte tradicional, que a Igreja Ocidental partilha com a Oriental, pode ser vista como um primeiro elemento comum da tão desejada reunificação das Igrejas Cristãs. "Finalmente, eis uma arte que não somente não teme dizer-se sacra, mas que recupera a beleza como reflexo do Divino.” (Do prefácio de Vittorio Messori)

Giovanni Mezzalira
Leciona na Escola de Iconografia San Luca em Padova e na Abadia de Maguzzano. É membro da Comissão de Arte Sacra da Diocese de Padova.

Enrico Bertaboni
Leciona na Escola de Iconografia San Luca em Padova e na Abadia de Maguzzano. Estuda e trabalha em seu laboratório dedicado a São Fermo, em S. Felice del Benaco (BS).

Giuseppe Matta
Impulsionado por uma paixão pela arte sacra, dedica-se ao trabalho sobre a experiência histórica e artística da Itália meridional bizantina, oferecendo sua contribuição de atualização.

Annarosa Ambrosi
Leciona na Escola de Iconografia San Luca em Padova. Colabora na atividade de promoção da cultura religiosa russa no Centro Solov'ev, em Padova.

Esta obra pode ser adquirida através do site da editora:
http://www.miquadro.it/aurelia/

terça-feira, 1 de março de 2011

NOSSO CURSO

 
O Curso propõe a experiência da pintura completa de um ícone, através de todas as etapas, evidenciando a técnica, a estética e a teologia, segundo a tradição russo-bizantina. Não pretendemos formar de momento um iconógrafo, mas fornecer chaves concretas de acesso à arte sacra, em vista de trazer benefícios em diversos níveis:

- aprofundar o sendo do Mistério da Encarnação, graças ao qual o nosso Criador assumiu uma face visível e "re-presentável" - O Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14);
- a descoberta da dignidade deste trabalho de representação da face de Deus supera a experiência subjetiva e se torna serviço eclesial;
- percebe como o mundo material da criação pode colaborar eficazmente com esta representação, como se estivesse misteriosamente predisposto a isto.

Uma pequena experiência pode ter ressonância em âmbito mais vasto e iluminar (e ser iluminada) a ação litúrgica, o canto e o espaço sagrado.
A preciosa herança da arte sacra do ícone esteve providencialmente conservada pela Igreja Oriental. Assim, pretendemos atingir, com absoluto respeito e reconhecimento, a realização deste trabalho, aceitando também as pequenas limitações, sem querer rapidamente remover os obstáculos, consequência de um "divórcio", que por quase um milênio, tem nos privado uns dos carismas dos outros.

domingo, 27 de fevereiro de 2011




O ÍCONE
se afirma independentemente
do artista e do espectador
e suscita não a emoção,
mas a vinda do transcendente, cuja presença ele atesta.
O artista se esconde atrás da Tradição que fala.
A obra torna-se uma manifestação de Deus,
diante da qual devemos nos prostrar num ato de adoração e de oração.
Pavel Evdokimov